quarta-feira, 16 de junho de 2010

nachtmystium - addicts: black meddle pt.II


Nothing hurts more than being born.
A minha expectativa em relação a este álbum era imensa e foi de certa forma gorada. Em parte porque, em busca da tão famigerada ruptura com o restante black metal, seus limites e preconceitos, os Nachtmystium criaram algo que só muito dificilmente caberá nesse parâmetro. Não estava à espera, e o primeiro contacto com o disco foi doloroso. Em maior parte porque este “Addicts” fica muito longe do anterior e obra-prima “Assassins”, em termos de inspiração.

A orientação deste álbum é muito mais rockeira, pop até, com canções directas e extremamente orelhudas, onde se misturam elementos industriais, electrónicos e algumas reminiscências do metal que lhes assentou ao longo dos anos. Mas não é isto, por si só, que me leva a torcer o nariz. Falta-lhe adrenalina, rasgos de alguma coisa que realmente me pulse o sangue. Não encontro o lado psicadélico que pautou o “Assassins”. Falta coesão, e os poucos blast beats soam-me deslocados do resto.
Há bons momentos, como é o caso da “Addicts” e da alienada “Blood Trance Fusion”, o melhor tema do álbum, que conta com pormenores tão estranhos como bem conseguidos. O registo vocal do Blake manteve-se áspero e encaixa surpreendentemente bem em campos mais luminosos. A produção foi trabalhada, e de certa forma ouvir o álbum pelos headphones potencia a descoberta do mesmo.
O disco acaba por ser simpático, mas provavelmente dirigido para o target errado. Se o “Assassins” foi um passo audaz, este mais audaz foi. Talvez em demasia.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

menace ruine - union of irreconcilables


Os canadianos Menace Ruine continuam a extremar aquilo a que gostamos de chamar música.
Não há uma transição brusca do anterior “The Die is Cast” para este. A cadência dos temas contínua muito ao sabor do drone e do folk algo disforme com correntes agrestes e medievais, não entrando em correrias e ímpetos do black que outrora ouvimos o grupo fazer. Mas é com camadas sucessivas de noise que se constrói grande parte do apocalipse que se vai abrindo perante nós. É esta faceta que torna o álbum absolutamente sinistro. Mais uma vez apanhados num ambiente morbidamente desolador e medonho, o envolvimento emocional com o que se ouve é um passo demasiado fácil, embora um estômago forte seja impreterível. A voz bastante característica da menina Geneviève continua-me estranha e bela, num registo limpo que, ainda assim, acentua a densidade dramática e obscura desta marcha maldita.
Grande viagem. Grande álbum. Grupo único.

sábado, 5 de junho de 2010

watain - lawless darkness


Passados 3 anos do excelente “Sworn to the Dark”, os suecos não esgotam aqui o seu característico manancial de sons infernais a louvar belzebu como se não houvesse amanhã. Parece-me até que este está ao nível do melhor que esta banda alguma vez fez.

Embora declaradamente black metal, os Watain têm muito mais que se lhe diga. Para além da fúria embrutecida e malvada e a atmosfera crua e negra, mas que tem o cuidado em não cair em campos onde os blast beats são inusitadamente constantes, há por aqui muita melodia delicada e agradável que facilmente fica no ouvido. Neste sentido é um disco menos directo que os antecessores, mas com um charme old school mais apurado, onde os solos de guitarra passeiam a sua classe e sobressai um lado mais thrashy do grupo. Um brilhante epílogo de 14 minutos põe um ponto de exclamação no significado da palavra “épico, uma toada que aliás atravessa o álbum transversalmente. Encantadora praga anti-cristã esta.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

trap them - filth rations

EP de quatro temas do melhor que os Trap Them têm para oferecer. A banda volta a mostrar que é muito mais do que raiva superiormente destilada, com temas que ora seguem furiosos, estranhos e doentios, ora nos abatem perversa e lentamente para o nosso próprio fundo. A destacar a “Carnage Incarnate” que é de brutalidade e musicalidade sublime, e dá o mote para que os restantes temas lhe sigam o rasto. Não há aqui, pois, nada que se possa dar ao luxo de desaproveitar. São 14 minutos para absorver uma e outra vez, até cair no ridículo.

É por estas e por outras que os Trap Them já me ganharam o estatuto de seguidor. Falta-me vê-los num palco.

terça-feira, 25 de maio de 2010

sepultura - beneath the remains (1989)


Há coisa de um mês fui vê-los a Corroios. Bom concerto. Limpei o pó e voltei a pegar nos clássicos.

Os Sepultura foram daquelas bandas que moldaram os meus gostos musicais de forma bastante vincada, naquela idade em que achamos que o que ouvimos é que é, e que os outros não percebem nada disto. A descoberta foi ao contrário. Álbuns sem o Max para mim não existiam. Primeiro, o “Roots”, depois “Chaos A.D.”. Se ao primeiro torci o nariz, o segundo continua a ser dos meus álbuns preferidos. O “Arise” é-me intemporal. A seguir viria o “Beneath The Remains”. Comprei o álbum sem ter ouvido sequer uma música dele (bons tempos), e sem qualquer tipo de referências de como soava ou deixava de soar.

Este é um daqueles felizes (a)casos em que se acha aquilo que realmente se procura na altura. O disco é um “Arise” sem travões. A banda fazia aqui a transição do death dos álbuns anteriores para um thrash brutal, cru e sem meias medidas, que se equiparava apenas ao que os Sodom ou os Slayer iam fazendo em termos de carga violenta. O ritmo é infernal de princípio a fim, cansativo até, na medida em que se tenta acompanhar o ritmo de todos os temas e somos levados a imaginar as gotas de suor a escorrerem pela cara dos músicos, mas nunca chega a aborrecer, por culpa da maioridade de cada um dos temas. Não há cá sons tribais, nem abordagens ao hardcore. Just thrash, plain and simple. E um dos melhores do seu género.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

metallica + volbeat + high on fire - lisboa, 18 de maio

Era a quinta, mas a primeira vez indoor. E com um tal de palco 360 graus.

Não sou um fanboy de High On Fire, longe disso. É uma banda que oiço e gosto. Umas vezes bate-me mais do que outras. Estava curioso para sentir ao vivo aquele peso cru e aquele thrashy sludge apodrecido, mas fiquei desiludido com as condições míseras dadas à banda. O som foi vergonhoso. A bateria mal se ouvia. Guitarra pouco perceptível. Só lhes foi permitido utilizar metade do palco e por isso tocaram de costas para metade da audiência. Trinta minutos e estava despachado. Enfim, mereciam melhor. Eles e os poucos que lá estavam para os ver. Mesmo assim deu para ver o virtuosismo dos três e sentir alguns dos temas do recente “Snakes For The Divine”. Fiquei parvo com o baixo e passei a maior parte do tempo a fisgá-lo, coisa que não é costume. Dadas as circunstâncias, a atitude do grupo foi exemplar. Mas eles bem sabem que aquilo não foi mais que uma amostra de concerto.

A presença dos Volbeat neste cartaz só tem uma justificação possível. São dinamarqueses e o Lars gosta de ser mandão. O que tinha ouvido antes do concerto foi-me medonho. Qualquer coisa entre o metal, o punk popularucho e o rockabilly com uma voz do piorio. Ao vivo ganham outra dimensão. A entrada dos tipos foi impetuosa e enérgica, e agora com todo o palco disponível, conseguiram mexer com o público. Mas cedo começou a cansar. As músicas pareceram-me todas muito similares e a descair para o azeiteiro, e até a repetição incessante do pedido da praxe do “make some noise” (não me lembro do gajo ter dito muito mais que isto durante todo o concerto) me começava a irritar. E aquela voz… A parte que mais gostei foi o riff da “Raining Blood”. Nem colhões tiveram para a tocar por completo.

Os Metallica não sabem dar maus concertos, por muita volta que se dê ao texto. Ter um público rendido à partida ajuda, mas, para mim, o factor diferenciador é mesmo o James. O homem é a essência da banda ao vivo, tem uma presença e um carisma desmedidos, e goza de uma empatia única com o povo. É o jogo do rei manda quando abre a boca.

Ainda a promover o “Death Magnetic”, o peso deste na setlist foi maior do que qualquer outro, com cinco temas ao todo. Começaram tal e qual o álbum com a “That Was Just Your Life” e a “The End Of The Line”, que saíram embrulhadas, muito por culpa da qualidade do som, mas daqui para a frente estabilizou para padrões aceitáveis se pensarmos que estávamos no PA. Seguiram-se algumas pérolas menos habituadas ao palco como o são a “Ride The Lightning” e a “Through The Never”, e até mesmo a recente “My Apocalypse” que funcionou muito bem e cuja pedalada o Lars até aguentou como um homenzinho. A “Fade To Black” é sempre um momento alto quando tocada, desta vez com um sentimento especial por ter sido dedicada ao Ronnie James Dio. Arrepiei-me. A “The Four Horsemen” para mim era obrigatória de cada vez que cá viessem. O único ponto que me resfriou os ânimos foi a “The Unforgiven III”, que eu acho mazinha e uma falta de respeito para com as outras duas.
O palco no centro do pavilhão tem tanto de bom, quanto de mau, pelo menos para quem esteve na plateia, mas acabei por gostar até pelo facto de ser diferente. Dá-nos a possibilidade de estar ali a poucos metros dos tipos sem que nos esmaguem entretanto, mas também há alturas em que não existe ninguém para olhar, apesar do esforço da banda em ter sempre um elemento em cada frente de combate.
O concerto lá prosseguiu com os habituais hits e entusiasmo exacerbado. Surpresas só mesmo no encore. A cover de Queen, “Stone Cold Crazy” e uma “Phantom Lord” inesperada e brutal que eu e mais meia dúzia de gatos-pingados cantámos até ficar sem voz. Tempo ainda para o filho do James subir ao palco e ouvir 20 mil gargantas cantarem-lhe os parabéns e para um intruso do público subir ao palco e dar uns toques na bateria do Lars, com consentimento do próprio. Acabou-se com a finisher “Seek and Destroy”, com as luzes acesas e com dezenas de bolas de praia a caírem sobre a plateia, o que deu um colorido diferente a um final mais que previsível.

O concerto acabou por superar as expectativas. O facto de ser indoor, não é, certamente a isso alheio. A ligação e a afinidade músicos/público são ampliadas, e ter um pavilhão daqueles cheio a cantar em uníssono, é algo que mete respeito. Mas não superou aquela coisa mágica de 2007.

sábado, 1 de maio de 2010

burzum - belus


Mais vale tarde do que nunca. Era no mínimo curioso saber o que se passava na cabeça do Varg, volvidos 16 anos de clausura. Ao que parece, durante esse tempo, o tipo alheou-se completamente do movimento norueguês que ajudou a edificar e a glorificar, musicalmente falando. Ora, de lá para cá o Black Metal sofreu muitas mutações, fundiu-se com o óbvio e com o menos óbvio e é hoje menos subversivo do que nunca. Para o Varg, foi então entrar numa realidade muito diferente da sua.

Pelo que se ouve neste “Belus”, foi para o lado que ele dormiu melhor. Não sou um conhecedor de lés a lés da discografia de Burzum, mas sei-lhe identificar a unicidade ambiental e sonora. Essa marca “Burzum”, não sai daqui beliscada, e, por ventura, ninguém estranharia se este álbum fosse lançado logo a seguir ao “Filosofem”.
A atmosfera, a produção crua, os riffs hipnóticos, a melancolia, o gelo. Está lá tudo de forma mais concisa e compacta, e sem desvarios ambientais de 25 minutos a meio do álbum (não é que eu não goste). Não me parece que o Varg tenha perdido a pica, e a composição de alguns temas atingem momentos de inesperada pompa, para os quais a grande maioria dos black metallers trabalha uma vida infrutiferamente. A harmonia de riffs que formam a “Glemselens Elv” transcende-me pela sua simplicidade e inspiração, pela possibilidade de duas guitarras ríspidas e agrestes criarem algo tão suave e melodioso, e aquela utilização dos samples na “Kaimadalthas' Nedstigning” não é menos que brilhante. O homem tem uma sensibilidade especial para a coisa, por mais controverso que seja e independentemente das suas crenças e personalidade. E isso pesa-me mais que tudo o resto.
Pouca gente esperava que saísse daqui uma coisa que competisse com os clássicos pré-1994. Agora há já quem diga que este “Belus” é o melhor da carreira de Burzum. Nem tanto, nem tão pouco. É capaz de ser o pedaço de black metal que mais me entusiasmou este ano, e teve a virtude de me por a descobrir o que faltava da carreira do norueguês. Depois fui fustigar-me para um canto.